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Sebastião Salgado

“Se as tuas fotos não são suficientemente boas, é porque não estás suficientemente perto”

Robert Capa

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Resenha : Germinal

O romance GerminaI, de Emile Zola, é considerado por muitos críticos literários, a obra fundamental do chamado naturalismo, no qual a estética realista se volta para a concepção de uma “história natural” dos seres e das sociedades.
A busca da “natureza” é uma escolha radical, pois pressupõe a procura da essência, de um “eu profundo”, que vive em luta constante entre o instinto e a moral, entre as necessidades humanas e a realidade social.
O livro retrata um conjunto de situações cruéis e desumanas, nos questionando: onde estão as monstruosidades? Na obra de Zola ou na miséria do mundo real?
Na obra, é possível perceber influências de algumas das mais importantes idéias do período em que foi escrita, como por exemplo: o materialismo de Karl Marx e a Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwim. Seja pela transformação econômica como combustível da história, do primeiro; seja pelo processo de seleção natural, como sentido da existência biológica, do segundo.
O título faz menção ao sétimo mês do calendário revolucionário francês, equivalente ao período entre 21 de março a 19 de abril do calendário gregoriano, quando se inicia a primavera no hemisfério norte. Podemos com isso, reforçar a idéia de que a realização do livro representava a esperança do autor em uma nova era para a humanidade.
Germinal é um livro escrito na França durante segunda metade do século 19. O processo de industrialização caminhava a passos largos, máquinas passavam a impor seu ritmo aos seres humanos.
A reprodução do capital, a intensificação da vida urbana, os avanços tecnológicos e a super – exploração dos operários, transformavam a sociedade em uma escala nunca antes vista e tornaram-se temas centrais em diversos escritos filosóficos, políticos e literários.
Intelectuais tentavam desenvolver métodos para a compreensão da realidade histórica, fundamentavam-se assim, ciências sociais como a sociologia e a antropologia.
Politicamente, a França oscilava entre as restaurações da monarquia e períodos republicanos. Esta instabilidade era conseqüência da adequação da tradição revolucionária às necessidades capitalistas propriamente ditas. Este processo foi identificado por Marx* como bonapartismo e consiste basicamente em uma aliança entre a aristocracia sobrevivente e a alta burguesia, com o “aburguesamento ” de uma e o “enobrecimento” da outra.
Os trabalhadores formavam suas organizações de classe, e realizavam ações de luta que, como visto em 1848 e na Comuna de Paris, representavam uma possibilidade real de radicalização das idéias jacobinas.
Era a “primavera dos povos” na terra da revolução de 1789. Germinal é um registro dessa época.
Biógrafos de Emile Zola afirmam que ele empregou-se numa mina de carvão onde vivenciou a realidade descrita em Germinal , utilizando-se assim, de um método semelhante ao de ciências sociais. Essa atitude, por vezes considerada romântica, parece ter deixado no autor uma perspectiva cética e um tanto niilista que perpassa o livro.
Os embates entre os personagens representam os valores das diferentes classes sociais, suas noções de mundo e seu papel diante da industrialização.
Entre os trabalhadores há aqueles completamente “animalizados” pela miséria, castigados pela fome, incapazes de vislumbrar algo mais do que uma simples refeição. Mas há também os que integram-se ao afluxo das lutas operárias da época, que querem o fim da exploração e o querem imediatamente.
Nas representações destes, são descritas as disputas entre as mais diversas tendências político-ideológicas daquele período, e que de certa forma, ainda estão presentes .
Os discursos de classe e mesmo a complexidade dos perfis psicológicos, aprofundam a crítica à um nível de radicalismo muito mais complexo do que o simples maniqueísmo. Sua perspectiva não se encerra numa questão dualista de oprimidos (“bons”) e opressores (“maus”). Vemos sim, a diferenciação entre os feios e os horríveis. Entre os que com seus erros conservam o capitalismo; e os que com seus acertos, o alimentam.
Um dos protagonistas, Etienne Lantier, identificado por estudiosos com o próprio autor, talvez represente um protótipo de quadro político, disposto a dedicar o melhor de suas forças em prol da organização e do socialismo.
Contudo, este parece desconhecer a essência das relações sociais, as dificuldades enfrentadas entre seus próprios companheiros são maiores do que sua capacidade de compreensão. Etienne aprende a duras penas, que a história não é feita de intenções. Sua decepção é a decepção de um revolucionário, com a própria identidade ideológica.
Por que a greve descrita no livro foi derrotada? Como aprimorar os métodos de organização e luta? Que ferramentas teóricas são apropriadas para a compreensão da realidade? Que caminhos devemos seguir, rumo à libertação da humanidade? Pergunta-se um militante social que entra em contato com a obra.
Germinal coloca a esquerda diante do espelho e não mostra a imagem que a esquerda gostaria.
A cena dos trabalhadores soterrados é uma metáfora da própria consciência de classe, vítima da exploração e do sectarismo, mas ao mesmo tempo semeada nas profundezas da alma operária, buscando uma forma de germinar.


*O 18 Brumário de Luís Bonaparte
Ficha Técnica
Tipo: Livro
Gênero: Literatura
Título: Germinal
Autor: Emile Zola
Tradução: Francisco Bittencourt
Editora: Círculo do Livro S.A. 1976

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

No 7 de setembro “Grito dos Excluídos” exige moradia e fim da criminalização dos movimentos sociais


























































No 7 de setembro principais pedidos do “Grito dos Excluídos” são melhores condições de moradia e fim da criminalização dos movimentos sociais



“Durante caminhada , da praça Osvaldo Cruz ao Parque do Ibirapuera, manifestantes pediram por moradia, fim da exclusão social, contra a criminalização dos movimentos sociais, pelos direitos sociais em defesa das políticas públicas com participação popular, pela redução da jornada de trabalho sem redução de salário e contra a precarização do trabalho”


Confira a carta aberta do Grito dos Excluídos:
Vida em primeiro lugar! 
Pela vida grita a TERRA... Por direitos, todos nós!!

A Central de Movimentos Populares - CMP, a Central Única dos Trabalhadores – CUT, a União dos Movimentos de Moradia de São Paulo - UMM, a Frente de Luta Pela Moradia – FLM, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia – MNLM, a Marcha Mundial das Mulheres, os Sindicatos dos Servidores Municipais de São Paulo, e outras Entidades de luta dos Trabalhadores/as, e do conjunto dos diversos Movimentos Populares de Saúde, Moradia, Criança e Adolescente, Negritude, Mulheres, LGBTTs, entre outros, estão nas ruas neste dia do Grito dos Excluídos e Excluídas 2011, para Gritar: Vida em primeiro lugar! Pela vida grita a TERRA... Por direitos, todos nós.
Exigir mais recursos para as políticas sociais, melhores condições de trabalho e salários, e ainda, lutar contra a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza e contra a homofobia, o racismo, toda forma de intolerância social e pelos direitos às tarifas sociais nos serviços essenciais. 
O mundo está assistindo as massivas mobilizações sociais em Londres, na Espanha, na Grécia, no Chile, e nos diversos países do Oriente Médio, combinada com uma fortíssima repressão policial e massacres às manifestações pacíficas. Em Londres, jovens estão sendo presos e condenados por convocar manifestações pela internet.  
No Brasil o nosso grande embate é contra a violência, contra a pobreza, contra as remoções e a violação ao direito à moradia e à cidade, causados especialmente pelos mega projetos urbanos em função da Copa do Mundo de 2014, que vem colocando nas ruas milhares de pessoas nas cidades sedes,  em detrimento da especulação imobiliária e do lucro das grandes corporações. 
Estamos gritando também em defesa da reforma urbana e agrária, em defesa do meio ambiente, contra a privatização do Sistema Único de Saúde – SUS-, contra a corrupção e apoiamos todas as medidas anticorrupção que visem moralizar a administração publica no âmbito  federal. 
Estamos também nas ruas para denunciar a onda de criminalização contra os movimentos sociais e a pobreza, que visa intimidar e reprimir a atuação de lideranças dos movimentos sociais. O exemplo disso, é que existem, centenas de lideranças processadas ou criminalizadas ou mesmo sendo assassinadas em função de sua luta e defesa dos direitos humanos. 
Outros temas que merecem o nosso grito e repúdio são: a homofobia, a intolerância social e a violência contra as mulheres. Os noticiários dão conta, que mais de 40% das mulheres afirmam já terem sofrido algum tipo de violência, estes números devem ser muito maiores, considerando que a cada 15 segundos uma mulher é vítima de violência em nosso país. Exigimos a aplicação da Lei Maria da Penha e a urgente implantação de políticas públicas para as mulheres.   
Com relação à homofobia, no ano de 2010, mais de 260 pessoas foram mortas em decorrência de ataques contra LGBTTs, o que demonstra um aumento do preconceito e da escalada de ódio contra este seguimento da população. Exigimos o fim da violência! 
Queremos ainda neste dia 07 de setembro de 2011, afirmar nosso apoio à luta da População em Situação de Rua, dos Idosos/as, das Pessoas com Deficiência, que lutam por cidades justas e acessíveis, e que defendem a Vida em Primeiro Lugar!! Neste momento que ... Pela vida grita a Terra... Por direitos todos nós!!!  
São Paulo, 07 de Setembro de 2011.